
Precisamos resgatar o brincar. Precisamos resgatar o brincar de verdade, aquele que a criança se lança de corpo e alma e se sente parte. Aquele brincar que suja, que às vezes machuca, que desperta a criatividade e a imaginação.
O brincar é aquele lugar onde o sol pode ser verde, a água amarela e está tudo bem. O barco pode voar e o passarinho nadar e está tudo bem. É ali que a criança se encontra, se forma, se transforma e se desenvolve.
Infelizmente o declínio do brincar, principalmente na pré-escola tem gerado inúmeros prejuízos para o desenvolvimento das crianças.
Através deste texto quero fazer um apelo aos pais sobre a importância do brincar. Estudos estimam que 39% das crianças do mundo com menos de cinco anos não atingem seu potencial máximo de desenvolvimento. Impressionante não é mesmo?
Algumas justificativas são condições desfavoráveis precoces até os dois anos de idade, ausência de estímulo no ambiente familiar e falta de energia disponível para atividade cerebral.
A arquitetura do cérebro é construída a partir de um processo que começa antes do nascimento e vai até a vida adulta. As primeiras experiências irão afetar a qualidade dessa arquitetura, estabelecendo uma base sólida ou frágil para toda a vida.
A importância do estímulo
O cérebro da criança é mais ativo do que o de um adulto. Ele trabalha incansavelmente, sendo que nos primeiros anos de vida tem de 700 a 1000 conexões neurais formadas a cada segundo. Essa arquitetura cerebral é construída através de experiências. Isso mesmo, na infância não existe aprendizagem sem experiência. Por isso, é tão importante que as crianças sejam estimuladas.
Aprender não é algo que é feito para uma criança, mas é alcançado através do seu envolvimento ativo. Sendo assim, a criança precisa ser estimulada e ter um ambiente enriquecido de experiências. Ofereça a ela oportunidades para brincar. O brincar é a principal ocupação da criança. Através do brincar, elas organizam sentimentos, pensamentos, e todas as competências (motoras, sensoriais, sócio afetivas, cognitivas e de linguagem). Através do brincar descobrem o mundo e este começa a fazer sentido para elas. As crianças possuem uma curiosidade inata e adoram investigar o mundo, principalmente através dos sentidos. Recolhem dados para tentar responder seus próprios questionamentos. Isso é incrível.
Isso quer dizer que precisamos desligar mais os aparelhos eletrônicos. Não ache que os inúmeros jogos infantis no celular estão estimulando sua criança. Brincar de quebra-cabeça no celular não é a mesma coisa que pegar o quebra-cabeça com as mãos. Não estou dizendo que as crianças não podem brincar com eletrônicos, estou dizendo que o excesso está prejudicando nossas crianças e tirando delas a oportunidade de um pleno desenvolvimento.
Mentes empobrecidas
Hoje em dia o brincar não é mais prazeroso que os desenhos na televisão e isso é triste. Os livros perdem facilmente para um jogo eletrônico e as crianças não são desafiadas a usar sua imaginação. Todo conteúdo está pronto em uma tela. A mente não está sendo estimulada, e sim empobrecida.
As telas causam uma elevação da dopamina (hormônio do prazer no cérebro), ou seja, a criança vai ter uma quantidade de prazer que ela não terá no dia a dia. Ela não terá essa mesma quantidade de prazer lendo um livro ou brincando.
Brincar é direito de toda criança. Elas precisam somente de tempo, espaço e permissão para serem crianças.
Todas as competências para ser um adulto saudável e produtivo começam brincando.
Resgate o brincar dentro da sua casa. Faça disso uma prioridade no processo de desenvolvimento da sua criança. Você não vai se arrepender.

Sarah Carrijo
Olá! Sou Sarah Ingred Silveira Carrijo, 30 anos, casada e mãe. Nascida em Belo Horizonte/MG, atualmente resido em Fortaleza/CE, onde atuo como Terapeuta Ocupacional pediátrica. Terapeuta Ocupacional, formada pela UFMG, e Psicopedagoga pela UNIBH. Hoje atuo na área de Neuropediatria – Integração sensorial, Conceito Neuroevolutivo, Intervenção Precoce e Estimulação Visual.